Compreensão

No silêncio onde a alma se derrama,
Sob as névoas do pranto sem razão,
Nasce a flor que do amargo se inflama:
É a brandura da compreensão.

Não julgues o irmão na sombra em que tateia,
Nem o passo incerto que vacila —
Talvez carregue, em dor que ninguém ceia,
A cruz mais funda e mais tranquila.

Às vezes, o que fere é só um grito
De um coração que implora afeição;
E o gesto rude, obscuro e contrito,
É só saudade em desolação.

Se tua luz brilhar, não a escondas;
Deixa que aqueça a dor alheia, então…
Pois o perdão são asas tão redondas
Que só se abrem com compreensão.

E quando fores tu quem clama e chora
No ermo vale de mágoa e provação,
Recorda a flor que ao outro ofertaste:
Ela voltará em consolação.

Auta de Souza