Este artigo é um convite para compreendermos a mediunidade sob a luz do Espiritismo, não como um fim em si mesma, mas como um meio de crescimento espiritual e serviço ao próximo.

Essa faculdade, que nos liga a dimensões mais sutis da vida, é uma das mais belas e desafiadoras oportunidades que Deus nos concede. Presente em muitos, manifesta-se de formas diversas e pode ser comparada a um dom musical: uma predisposição natural que, para ser harmoniosa e útil, exige estudo, prática e sintonia com o bem. Longe de representar algo misterioso ou assustador, a mediunidade é, em essência, um instrumento de amor, consolo e esclarecimento. E como toda grande ferramenta espiritual, requer preparo e direção segura.

A Mediunidade como Missão de Serviço

A Codificação Espírita nos ensina que a mediunidade não é privilégio, mas responsabilidade. Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, adverte que a simples posse da faculdade não habilita ninguém ao seu exercício, é indispensável educá-la. Imagine um médico com talento natural para curar, mas que se recusa a estudar anatomia e farmacologia; mesmo bem-intencionado, sua prática seria inevitavelmente arriscada. O mesmo ocorre com o médium que atua sem preparo.

A mediunidade mal compreendida pode gerar perturbações em vez de consolo. Por isso, a educação mediúnica não cria médiuns, forma-os, despertando consciência, lucidez e fidelidade aos propósitos do bem. É uma missão que exige humildade, dedicação e sincero desejo de servir.

O Tripé da Mediunidade Segura: Estudo, Pratica Consciente (Discernimento) e Reforma Íntima

Para construir uma prática mediúnica equilibrada e produtiva, A Doutrina Espírita propõe um tripé essencial para o exercício equilibrado da mediunidade: Estudo constante, prática consciente (discernimento) e reforma íntima. Kardec afirma:

“A facilidade de execução é uma questão de hábito […]; enquanto a experiência resulta de um estudo sério de todas as dificuldades que se apresentam na prática.” (O Livro dos Médiuns, cap. XVI, item 192)

A experiência confere ao médium o tato espiritual para distinguir a natureza dos Espíritos, reconhecendo a verdade e evitando o erro. Emmanuel reforça:

“A educação confere discernimento. E o discernimento é a luz que nos ensina a fazer bem todo o bem que precisamos fazer.”  (Seara dos Médiuns, cap. 62 – “Discernimento”)

O discernimento é o elo entre razão e sentimento, a bússola que guia o médium diante das comunicações espirituais, submetendo-as ao “cadinho da razão mais severa”, como recomenda Kardec. Mas entre os três pilares, o mais importante é o da reforma íntima. Emmanuel adverte:

“Não há desenvolvimento mediúnico, para realizações sólidas, sem o aprimoramento da individualidade mediúnica.” (Seara dos Médiuns, cap. 41 – “Formação mediúnica”)

Sem o trabalho moral, a mediunidade perde sintonia com os bons Espíritos. O coração renovado é o verdadeiro imã que sustenta o médium em suas provas e responsabilidades. E como lembra O Evangelho Segundo o Espiritismo:

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações.”

A prática mediúnica, portanto, é também um exercício contínuo de autoconhecimento e superação.

O Estudo como Defesa e Ferramenta de Progresso

O estudo é mais que um recurso intelectual; é escudo e instrumento de progresso. Muitos temem a mediunidade, acreditando que ela possa “abrir portas” para influências negativas. A Doutrina Espírita, porém, ensina que o perigo não está na faculdade em si, mas na ignorância quanto ao seu uso. Kardec orienta:

“Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos […], é preciso pesar e meditar, submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes.” (O Livro dos Médiuns, cap. XXIV, item 266)

O médium estudioso compreende os mecanismos da comunicação espiritual e evita ilusões ou mistificações. A fé espírita é raciocinada, e o conhecimento é o seu melhor antídoto contra o fanatismo. Emmanuel reforça essa verdade:

“A mediunidade […] precisa levantar-se e esclarecer-se, edificar-se e servir, com bases na educação.” (Seara dos Médiuns, cap. 43 – “Mediunidade e alienação mental”)

Estudar é proteger-se e, ao mesmo tempo, servir com mais eficiência. O médium instruído atua com consciência, serenidade e amor, tornando-se cooperador lúcido da obra divina.

A Mediunidade de Jesus: O Modelo do Evangelho no Coração

Em qualquer tarefa espiritual, nosso exemplo maior é Jesus. Ele foi o médium por excelência, o intérprete perfeito da vontade de Deus e demonstrou que a mediunidade verdadeira se expressa no amor que cura, perdoa, consola e esclarece. Uma mediunidade cristã é aquela que tem o Evangelho como guia, que consola o aflito, esclarece o ignorante e ampara o necessitado. Emmanuel resume com clareza:

“A faculdade mediúnica […] precisa levantar-se e esclarecer-se, edificar-se e servir, com bases na educação.” (Seara dos Médiuns, cap. 43)

Servir com base na educação é unir o conhecimento doutrinário à prática evangélica. É transformar cada comunicação, cada tarefa, em um ato de amor e caridade.

 Um Convite ao Crescimento com Segurança e Paz

A educação mediúnica não é imposição nem rigidez; é um caminho de libertação. Ela nos liberta do medo, da ignorância e do orgulho, conduzindo-nos à serenidade de quem compreende a vida em duas dimensões. Investir no estudo, no discernimento e na reforma íntima não é apenas se tornar um bom médium, é se tornar um espírito melhor.

A mediunidade educada é fonte de alegria e segurança, pois nos aproxima dos bons Espíritos, revela o amor divino e nos transforma em instrumentos do bem. Recordemos, enfim, o apelo do Espírito da Verdade, registrado por Allan Kardec:

“Espíritas!, amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI)

No amor e na instrução estão as chaves da verdadeira mediunidade com Jesus, um cântico de luz e esperança a serviço do bem.


REFERÊNCIAS

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 137. ed. 1. imp. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 79. ed. 1. imp. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2019.

XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. especial. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2017.