A mediunidade, à luz do Espiritismo, não é privilégio, espetáculo ou poder pessoal. É uma oportunidade sagrada de servir, uma ponte luminosa entre o mundo visível e o invisível. Allan Kardec apresenta-a como faculdade natural, que deve ser educada e consagrada ao bem. Mais do que fenômeno, a mediunidade é um chamado à responsabilidade, pois o médium se torna intérprete entre dois planos da vida. Quando orientada pelo amor e pela fé raciocinada, a mediunidade eleva o ser e o integra ao trabalho divino de regeneração da Humanidade.
A Mediunidade como Chamado ao Serviço
Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec define claramente o caráter missionário da mediunidade:
“É uma missão de que se incumbiram e cujo desempenho os faz ditosos. São os intérpretes dos Espíritos com os homens.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo XVII, item 220, § 12º).
Aqui, a mediunidade é apresentada como serviço voluntário à luz. Ser médium é cooperar com os Espíritos benfeitores na tarefa de consolar, esclarecer e inspirar o próximo. Kardec complementa:
“Este dom de Deus não é concedido ao médium para seu deleite e, ainda menos, para satisfação de suas ambições, mas para o fim da sua melhora espiritual e para dar a conhecer aos homens a verdade.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo XVII, item 220, § 3º).
O médium, portanto, é um trabalhador do Cristo, chamado a servir com abnegação e propósito elevado. O uso da faculdade para interesses pessoais desvirtua seu sentido e compromete o progresso espiritual daquele que a recebe.
O Compromisso Ético e a Missão Moral
O médium é chamado a agir com consciência e disciplina, pois a mediunidade implica responsabilidade moral. Kardec ensina:
“Médiuns devotados: os que compreendem que o verdadeiro médium tem uma missão a cumprir e deve, quando necessário, sacrificar gostos, hábitos, prazeres, tempo e mesmo interesses materiais ao bem dos outros.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo XVI, item 197).
Essa definição mostra que a verdadeira grandeza do médium está na renúncia e na dedicação ao bem coletivo. A mediunidade é vocação para o serviço e não meio de destaque ou vantagem. O Codificador também adverte contra o uso mercantil da faculdade:
“Em resumo, a mediunidade é uma faculdade concedida para o bem e os bons Espíritos se afastam de quem pretenda fazer dela um degrau para chegar ao que quer que seja, que não corresponda às vistas da Providência.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo XXVIII, item 306).
Toda tentativa de transformar o dom espiritual em instrumento de lucro ou ostentação afasta os Espíritos superiores, gerando desequilíbrio e desvio moral.
O Ensino dos Benfeitores Espirituais
Emmanuel amplia o conceito de serviço mediúnico ao afirmar:
“Usa, pois, tuas faculdades medianímicas como empréstimo da Bondade Infinita, para que o orgulho te não assalte. […] Jesus, o Medianeiro Divino, passou entre os homens amparando e compreendendo, ajudando e servindo.” (Seara dos Médiuns, Capítulo 13 – Em serviço mediúnico).
E reforça:
“Faze da mediunidade o instrumento com que possas desferir, entre as criaturas irmãs, o teu hino de amor. Entretanto, não lhe situes os acordes em leilão.” (Seara dos Médiuns, Capítulo 65 – Obrigação primeiramente).
A mediunidade é, portanto, um empréstimo divino, e não posse pessoal. O médium é mordomo do bem, responsável por administrar com fidelidade o que o Céu lhe confiou. André Luiz confirma essa visão de dever e cooperação:
“Pelo tempo de atividade na Causa do Bem e pelos sacrifícios a que se consagrou, Ambrosina recebeu do Plano Superior um mandato de serviço mediúnico.” (Nos Domínios da Mediunidade, Capítulo 16 – Mandato Mediúnico).
E acrescenta:
“Os orientadores da Espiritualidade procuram companheiros, não escravos. […] O médium digno da missão do auxílio deve trabalhar e estudar por amor.” (Nos Domínios da Mediunidade, Capítulo 16 – Mandato Mediúnico).
Esses ensinamentos revelam que o serviço mediúnico é um pacto de cooperação consciente, no qual o amor é a lei suprema e a humildade o alicerce do êxito espiritual.
A Mediunidade como Escola de Humildade e Crescimento
Exercida com disciplina e pureza de intenção, a mediunidade torna-se escola de humildade. O médium aprende a dominar o orgulho, a vigiar os pensamentos e a servir em silêncio. Emmanuel sintetiza essa verdade:
“A mediunidade é o campo sagrado em que o espírito deve aprender a humildade, o devotamento e o amor em suas mais puras expressões.” (Seara dos Médiuns, interpretação doutrinária).
Cada prova, cada dificuldade enfrentada, é convite ao aperfeiçoamento moral. O médium amadurece espiritualmente à medida que renuncia à vaidade e se entrega ao serviço desinteressado. Compreender a mediunidade como serviço e vocação é reconhecer nela uma chamada de amor e responsabilidade. É aceitar o compromisso de cooperar com Jesus na obra da regeneração humana. A faculdade mediúnica é um talento divino confiado àqueles que têm o dever de servir, consolar e instruir. O médium que ora, estuda e trabalha com humildade transforma sua sensibilidade em canal de bênçãos, encontrando a verdadeira felicidade no servir.
O Espírito da Verdade encerra o ensinamento:
“Espíritas, amai-vos; este é o primeiro ensino. Instrui-vos; este o segundo.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo VI).
Servir com amor e estudar com fé, eis o roteiro da mediunidade iluminada, que transforma o dom em vocação redentora e escola de ascensão espiritual.
REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 88. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 87. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.
XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). Seara dos Médiuns. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2017.
XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Nos Domínios da Mediunidade. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2015.

