Este artigo que fala sobre a mediunidade com Jesus é um convite para você compreender a mediunidade sob uma nova ótica: não como um fenômeno sobrenatural, mas como uma expressão do nosso próprio ser, quando compreendido e exercitado com o coração, pode se tornar uma poderosa ferramenta de serviço ao próximo e de crescimento espiritual.

Por muito tempo, a mediunidade foi vista como um dom misterioso, um privilégio para poucos iniciados ou um fenômeno assustador. No entanto, a Doutrina Espírita, com sua lógica e profundo consolo, vem iluminar esse tema, revelando-o como uma faculdade natural, uma ponte de amor que nos conecta ao mundo espiritual, oferecendo esperança, esclarecimento e a certeza de que a vida é eterna.

Uma Faculdade Natural: Todos Somos Médiuns

A primeira grande consolação que o Espiritismo nos traz é a desmistificação da mediunidade. Allan Kardec, o codificador da Doutrina, organizou os ensinamentos dos Espíritos Superiores e demonstrou que a comunicação entre os planos material e espiritual não é um evento raro ou milagroso, mas algo regulado por leis naturais, assim como a gravidade ou a eletricidade.

A mediunidade é, portanto, inerente ao ser humano. Está presente em todos nós, em graus e formas variadas. Kardec é categórico ao afirmar:

“Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.” ¹

Isso significa que aquela intuição súbita, a sensação de presença, o sonho revelador ou a forte impressão de que não estamos sós são manifestações rudimentares dessa faculdade. Compreender isso é libertador. Tira o véu do mistério e nos coloca em contato com a nossa realidade espiritual. Não precisamos ter medo; precisamos, sim, aprender.

O Perispírito: A Ponte que une

Mas como essa comunicação é possível? A chave para entender esse intercâmbio está no perispírito. Kardec nos explica que o ser humano é constituído por três elementos essenciais:

“1º, a alma, ou Espírito, princípio inteligente […] 2º, o corpo, invólucro grosseiro, material […] 3º, o perispírito, envoltório fluídico, semimaterial, que serve de ligação entre a alma e o corpo.” ¹

O perispírito é esse corpo espiritual, semimaterial, que nos acompanha antes, durante e depois da vida física. Ele é o agente de todas as sensações e o instrumento que permite ao Espírito atuar sobre a matéria. É através dele que as impressões, as ideias e os sentimentos dos Espíritos podem nos alcançar, e vice-versa. Essa não é uma hipótese, mas uma realidade observada e estudada. É a ponte que nos garante que nunca estamos desconectados daqueles que partiram. Eles continuam vivos, pensando e sentindo, e o perispírito é o meio pelo qual podemos, em certas condições, reatar o contato.

A Mente e a Sintonia: Atraímos Aquilo que Somos

Se a mediunidade é uma ponte, a nossa mente é o operador que define quem e o que pode cruzá-la. Este é um dos ensinamentos mais profundos trazidos pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier. Eles ampliaram a compreensão da mediunidade, destacando a imensa responsabilidade moral de quem a exerce.

André Luiz, em “Nos Domínios da Mediunidade”, traz um ensinamento fundamental através do instrutor Albério:

“Meus amigos — falou, com segurança —, precisamos considerar que a mente permanece na base de todos os fenômenos mediúnicos. […] Em mediunidade, portanto, não podemos olvidar o problema da sintonia. Atraímos os Espíritos que se afinam conosco, tanto quanto somos por eles atraídos.” ²

Esta é uma lei espiritual inquestionável: a lei de afinidade. Nossos pensamentos e sentimentos criam um campo vibratório ao nosso redor, uma “sintonia” que atrai Espíritos com padrões vibratórios semelhantes. Se cultivamos a paz, a bondade e o desejo de servir, seremos instrumentos para vozes de paz e sabedoria. Se alimentamos a raiva, o ciúme ou a revolta, estaremos, mesmo sem querer, abrindo portas para influências menos felizes.

Emmanuel corrobora essa visão, afirmando:

“Todos somos médiuns, dentro do campo mental que nos é próprio, associando-nos às energias edificantes, se o nosso pensamento flui na direção da vida superior, ou às forças perturbadoras e deprimentes, se ainda nos escravizamos às sombras.” ³

A mediunidade, portanto, começa em nossa reforma íntima, em nosso esforço diário de ser melhor.

Um Talento Divino: Responsabilidade e Serviço

Diante dessa compreensão, a mediunidade deixa de ser um simples fenômeno e se transforma em uma missão de amor. Emmanuel, na obra “Seara dos Médiuns”, nos oferece uma reflexão crucial:

“Não é a mediunidade que te distingue. É aquilo que fazes dela. […] Mediunidade, assim, tanto quanto a visão física, representa, do ponto de vista moral, força neutra em si própria. A importância e a significação que possa adquirir dependem da orientação que se lhe dê.” ³

A faculdade em si é neutra. O que define o seu valor é a intenção com que é usada. Ela pode ser um instrumento para o consolo de corações partidos pelo luto, para a orientação de almas perdidas ou para a divulgação de ensinamentos de luz. Para isso, exige disciplina, estudo doutrinário e, acima de tudo, uma conduta moral alinhada com os ensinamentos de Jesus.

O médium não é um ser passivo, um “telefone espiritual”. Ele é um cooperador ativo, cujo coração e mente, influenciam diretamente a qualidade da comunicação. Por isso, a mediunidade com Jesus não é um caminho de glórias ou facilidades, mas um caminho de trabalho humilde e redentor. Como orienta Emmanuel:

“Se queres cooperar, dentro dela, a fim de que produza frutos de ordem e elevação, consolo e ensinamento, repara, acima de tudo, a onda em que te colocas.” ³

Uma Jornada de Esperança e Amor ao Próximo

Compreender a mediunidade sob a luz do Espiritismo é abraçar uma visão de esperança e responsabilidade. É perceber que a morte não existe, que o amor é eterno e que estamos todos, incessantemente, conectados por laços de afeto e aprendizado.

Se todos somos médiuns em potencial, a grande pergunta que fica é: que tipo de sintonia estamos alimentando em nosso dia a dia? Estamos cultivando pensamentos de paz e ações de caridade que nos sintonizam com as esferas superiores? A mediunidade consciente e com Jesus nos convida a isso: a transformar nossa própria vida em uma mensagem de amor, para que sejamos, nós mesmos, um canal de consolo e esperança para o mundo.

Que possamos, portanto, enxergar essa faculdade natural como um convite divino. Um convite para servir, para amar e para construir, juntos, uma ponte indestrutível entre o Céu e a Terra, onde o consolo e a certeza da vida eterna possam tocar cada coração que sofre, iluminando sua caminhada com a luz da fé racional e do amor incondicional.

Referências:

1 – KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.

2 – LUIZ, André. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 37. ed. 1. reimp. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.

3 – XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2021.