A Doutrina Espírita torna claro as leis espirituais que sustentam a interação entre o Espírito e a matéria. No centro dessa dinâmica estão o fluido universal, o perispírito e a matéria mental, elementos fundamentais da mediunidade. O fluido universal é a base primordial de todas as formas; o perispírito, o corpo semimaterial do Espírito; e a matéria mental, a substância sutil onde o pensamento se exterioriza. Compreender esses elementos permite interpretar os fenômenos mediúnicos sem mistério, substituindo o misticismo pela fé raciocinada. O médium, ao perceber que o pensamento plasma e dirige os fluidos, assume maior responsabilidade espiritual, alinhando disciplina, moralidade e serviço ao bem.
O Fluido Universal: Matriz da Criação
“Sim, é o princípio elementar de todas as coisas.” — O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Cap. IV, item 74, § III.
Kardec identifica o fluido universal como a substância primeira, base de toda manifestação. Com isso, retira o caráter sobrenatural dos fenômenos espirituais, situando-os dentro das leis naturais que regem o Espírito e a matéria.
“Esse fluido apenas anima a matéria.” — O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Cap. IV, item 74, § VI.
O fluido é o elo vital entre Espírito e corpo. A matéria é inerte; a vida provém do influxo inteligente que a anima. Daí derivam o magnetismo, os passes e todos os efeitos de natureza fluídica.
“Para o encontrarmos na sua simplicidade absoluta, precisamos ascender aos Espíritos puros… o estado em que se encontra mais próximo daquela simplicidade é o do fluido a que chamais fluido magnético animal.” — O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Cap. IV, item 74, § V.
Kardec mostra a gradação do fluido conforme a pureza espiritual. Entre os encarnados, manifesta-se como magnetismo animal, expressão imperfeita, porém acessível, do mesmo fluido cósmico.
“O fluído cósmico é o plasma divino, hausto do Criador… Nesse elemento primordial, vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano.” — Evolução em Dois Mundos, Primeira Parte – Fluído Cósmico.
André Luiz amplia o conceito de Kardec, descrevendo o fluido como o “oceano da vida”. Tudo existe dentro desse campo divino, e nele o pensamento humano atua como onda criadora.
O Perispírito: Corpo de Expressão do Espírito
“Além desse invólucro material, tem o Espírito um segundo, semimaterial… a que damos o nome de perispírito.” — O Livro dos Médiuns, Primeira Parte, Cap. I, item 3.
“O perispírito faz, portanto, parte integrante do Espírito… é o agente ou instrumento de sua ação.” — O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Cap. I, item 55.
O perispírito é o organismo de ligação entre a alma e o corpo. Nele se refletem sensações, emoções e pensamentos, tornando-se o campo de registro e expressão da vida espiritual. Kardec estabelece que o perispírito não pensa, mas transmite o pensamento. É instrumento, não essência, o Espírito atua por meio dele, como o homem através do corpo.
“O Espírito precisa, pois, de matéria para atuar sobre a matéria… serve-lhe também de agente intermediário o fluido universal.” — O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Cap. I, item 58.
Aqui se evidencia a cadeia de ação espiritual: Espírito → perispírito → fluido universal → matéria. Essa sequência explica desde as curas até os fenômenos de materialização. Essa plasticidade perispiritual justifica as aparições e transfigurações. A forma espiritual expressa o estado moral; Espíritos elevados irradiam luz, enquanto os inferiores exibem densidade sombria.
A Matéria Mental: Pensamento como Força
“Nossa mente é, dessarte, um núcleo de forças inteligentes, gerando plasma sutil que, a exteriorizar-se incessantemente de nós, oferece recursos de objetividade às figuras de nossa imaginação.” — Nos Domínios da Mediunidade, Cap. 1 – Estudando a mediunidade.
O pensamento é energia palpável e criadora. Exterioriza-se como plasma mental que modela as formas no plano fluídico, sendo a base de toda manifestação mediúnica. A mente é laboratório da vida. O bem e o mal começam na direção mental. Por isso, o médium deve cultivar serenidade e prece para que sua emissão mental produza luz, e não perturbação.
“O pensamento espalha nossas próprias emanações em toda parte a que se projeta…” — Nos Domínios da Mediunidade, Cap. 26 – Psicometria.
“O pensamento é, portanto, nosso cartão de visita… ” — Seara dos Médiuns, Cap. 2 – Cartão de visita.
Emmanuel sintetiza o ensino moral do tema: somos reconhecidos espiritualmente pela qualidade do nosso pensamento. A mente é nossa assinatura energética.
A fenomenologia mediúnica se esclarece à luz da tríade Espírito–Perispírito–Fluidos. O pensamento é força viva que estrutura a realidade invisível. Por isso, a reforma íntima é também higiene fluídica, pois o que pensamos, sentimos e fazemos repercute em torno de nós. O médium equilibrado é o que compreende que servir é educar a mente para irradiar amor. Pensar é criar. Criemos, pois, com Jesus, mundos de luz, paz e renovação.
REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.
XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo (psicografia de André Luiz). Evolução em Dois Mundos. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2020.
XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de André Luiz). Nos Domínios da Mediunidade. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2021.
XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de Emmanuel). Seara dos Médiuns. 27. ed. Brasília: FEB, 2020.

