Na seara espírita, a mediunidade vai muito além de ser apenas um meio de comunicação entre os planos da vida; ela é, na verdade, uma escola de aperfeiçoamento espiritual. No entanto, para que essa habilidade alcance seu propósito divino, é fundamental que ela se sustente em duas colunas luminosas: a oração e a caridade.
Esses elementos não são apenas ferramentas auxiliares; eles são condições essenciais para garantir a segurança e a autenticidade das comunicações mediúnicas. A Doutrina Espírita, conforme a Codificação de Allan Kardec, revela que a prece sincera estabelece uma sintonia com os bons Espíritos, enquanto a caridade prática garante a pureza moral e o equilíbrio vibratório necessários para o intercâmbio espiritual.
A Oração: Fonte de Força e Sintonia
A oração é aquele elo invisível que conecta o homem ao Criador. No O Livro dos Médiuns, Allan Kardec nos ensina:
“A prece, bem o sabes, é uma evocação que atrai os Espíritos. Tanto maior ação terá, quanto mais fervorosa e sincera for.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo IX, item 132, § 8º-a).
A prece verdadeira não é só uma recitação sem sentimento, mas uma vibração elevada, um ato de sintonia mental e moral. Através dela, o médium ajusta suas ondas mentais às esferas superiores, tornando-se um canal de paz. Kardec reforça:
“O melhor meio de expulsar os maus Espíritos consiste em atrair os bons […] Sede sempre bons e somente bons Espíritos tereis junto de vós.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo IX, item 132, § 13º).
André Luiz amplia essa ideia ao afirmar que:
“A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai.” (Nos Domínios da Mediunidade, Capítulo 17 – Serviço de Passes).
Portanto, a prece é o primeiro movimento de defesa e luz para o médium. Ela purifica o ambiente, fortalece o grupo e abre caminhos para as inspirações do Alto.
A Caridade: O Filtro Moral das Comunicações
A caridade é o segundo pilar que sustenta o trabalho mediúnico. Mais do que um simples ato de bondade, ela representa a expressão viva do Evangelho em ação. Kardec define o critério da pureza espiritual de forma bem clara:
“Os bons Espíritos só prescrevem o bem. Máxima nenhuma e nenhum conselho que se não conformem estritamente com a pura caridade evangélica podem ser obra de bons Espíritos.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo XXIV, item 267, § 17º).
Assim, a caridade se torna o selo de autenticidade das comunicações. Espíritos verdadeiramente superiores nunca inspiram sentimentos de orgulho, intriga ou vaidade. Nesse mesmo sentido, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ensina:
“Fora da caridade não há salvação. O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XI, item 11).
Emmanuel reforça a importância educativa da caridade:
“Doutrina Espírita, na essência, é universidade de redenção. […] Estarás, cada dia, ensinando o caminho da elevação, na cadeira do exemplo.” (Seara dos Médiuns, Capítulo 3 – Ensino Espírita).
O médium que serve com amor, indulgência e humildade se torna um verdadeiro agente de Jesus, transformando cada reunião em um ato de socorro e aprendizado.
Oração e Caridade como Antídotos à Obsessão
Um dos maiores desafios da mediunidade é a obsessão, que é a influência persistente de Espíritos inferiores sobre os encarnados. Allan Kardec nos alerta:
“Entre os escolhos que apresenta a prática do Espiritismo, cumpre se coloque na primeira linha a obsessão […] Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo XXIII, item 237).
A Doutrina nos fornece um caminho seguro:
“O mais poderoso meio de combater a influência dos maus Espíritos é aproximar-se o mais possível da natureza dos bons.” (O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Capítulo XXIII, item 254, § 2º).
André Luiz complementa:
“A obsessão […] é uma enfermidade mental, reclamando por vezes tratamento de longo curso.” (Nos Domínios da Mediunidade, Capítulo 19 – Dominação Telepática).
Portanto, a oração e a caridade são os dois remédios morais que restauram a harmonia interior e libertam a alma dos laços do passado. A prece ajusta a sintonia, enquanto a caridade dissolve o orgulho e o egoísmo, permitindo que a luz divina atue. A mediunidade com Jesus se mantém firme em dois pilares inabaláveis: oração e caridade. A primeira é a escada pela qual a alma ascende; a segunda, o chão sólido onde o amor se concretiza. O médium que ora de coração e serve com amor transforma o intercâmbio espiritual em um ato de redenção. Como nos ensina o Espírito da Verdade:
“Espíritas, amai-vos; este é o primeiro ensinamento. Instrui-vos; este é o segundo.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo VI).
Quando a oração eleva e a caridade ilumina, a mediunidade deixa de ser um fenômeno simples e se torna um caminho de luz, fé e libertação.
REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 88. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 87. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2022.
XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). Seara dos Médiuns. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2017.
XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Nos Domínios da Mediunidade. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2015.

